quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Um Carnaval Diferente...


Este ano o meu Carnaval foi diferente…

Mascarei-me a rigor para mais um dia de trabalho… a máscara com que sempre ansiava vestir e que tanto me diz… Enfermeiro.

Mas nem tudo foi alegrias… Enquanto muito se divertiam, eu tentava desesperadamente reanimar mais uma pessoa… uma paragem cardio-respiratória que ninguém esperava e logo assim no início do turno.

Não consegui compreender qual o facto que levou a esta situação. Mas agi rapidamente… infelizmente já fui tarde de mais e não consegui alterar tão trágico fim…

Irritei-me comigo próprio (sem ter culpa nenhuma…) pergunto-me se a enfermeira que esteve anteriormente com ele não poderia ter feito algo mais, pois segundo informações recolhidas posteriormente a situação já se arrastava a algum tempo… Porque não o fez?

Agi de acordo com a minha consciência e de acordo com os apelos dos familiares, que só não viram o doente falecer, porque tive o discernimento de os mandar sair, enquanto corria pelo corredor fora em busca de um carro de emergência, de um médico e de alguém que me fosse ajudar…

Enquanto tentava a possível reanimação o cansaço era maior, o suor escorria-me pela face e a esperança desvanecia… até que nada havia a fazer…

Os momentos que se seguiram foram de total desânimo… a família estava cá fora à minha espera… à espera da notícia que tudo tinha corrido bem… e o árduo e difícil trabalho de ter de a informar que não conseguimos reverter a situação era Meu… Só Meu!!!

Tal notícia caiu como um bomba… Tudo chorava em meu redor… contive as lágrimas! Não podia também eu desesperar… afinal de contas era o enfermeiro que ele tanto confiava…

Controlei-me… informei a família da situação… acalmei os ânimos… compus a ordem e no final agradeceram todo o meu empenho e dedicação…

Para sempre fica esta história gravada em mim… pois foi assim que faleceu o meu primeiro doente…

A realidade por vezes pode ser dura e cruel… mas o meu carnaval foi passado entre gritos e choros, entre compressões torácicas e ventilações, entre laringoscópios e tubos endotraqueais…

Triste?… Sim, talvez… Mas ao mesmo tempo contente e de consciência tranquila, porque sei que fiz tudo aquilo que estava ao meu alcance para inverter a situação… não o deixei sozinho… nem nos últimos momentos de vida…

Onde quer que estejas… Só Tu e Eu é que sabemos disso…

Até qualquer dia…

(Quando se é Jovem e se quer mudar o Mundo… fazem-se destas coisas… palavras levadas pelo vento… coisas sem nexo que a vós não vos diz nada, mas que a mim assentam que nem uma luva… Enfim, há certas coisas que são inevitáveis, por muito que lutemos para que elas mudem… Abraços!)

4 comentários:

MRM disse...

Foi um fim certamente trágico!
Mas tens muita razao naquilo que disseste; so tens que te sentir de consciencia tranquila, porque sabes que fizeste tudo que estava ao teu alcance!

Concordo tanto contigo quando dizes que, quando somos jovens, temos esta vontade de querer mudar o mundo e por vezes remamos tantas vezes contra a maré...
Tens uma tarefa muitas vezes ingrata mas aposto contigo que as coisas boas, as melhoras, as recuperações sabem tao bem que cobrem tudo isso!

Por isso, parabens pelo teu trabalho :)
E deixa lá que sapos ha muitos!

josnumar disse...

Caro Nunito,
na vida de enfermeiro vai viver mais vezes estas situações. Tem a consciência tranquila, fez aquilo que tinha a fazer, mas naquele momento desejava ser Deus para salvar uma vida humana.
Eu sou Auxiliar de Acção Médica num hospital. Começo a ficar "vacinado" porque no serviço onde trabalho, situações como a que viveu, repetem-se com muita frequência. Já deu para entender e compreender que a Vida não está nas mãos dos profissionais de saúde, contudo, trabalhamos sempre na esperança de vencermos a morte.
Força e coragem para os dias vindouros.Os portugueses necessitam de enfermeiros como você.
Um abraço.

Anónimo disse...

Sei o que sentes, pois também já o senti. A vontade de querer "salvar" é tanta que mesmo tendo a consciência que fizémos tudo o que estava ao nosso alcance ficamos com uma sensação de impotência e de angústia de que queríamos ter feito mais. Queríamos ter realmente "salvo" essa pessoa. Pode acontecer que um dia realmente "salves" uma pessoa, mas acredita que estás a salvar muitas pessoas todos os dias. É no que eu penso quando me acontecem situações como a que viveste.
Esta foi só a primeira, infelizmente o nosso trabalho é duro e o teu coração vai ficar "apertado" mais vezes... Mas lembra-te, no nosso trabalho há muitas tristezas, mas as alegrias acabam por compensar!

Anónimo disse...

olá santos!como vai o ALL Garve!
revi-me neste teu texto...o que mais custa pensar é que com o suceder das situções estas acabam por nos parecer banais!!!!em que é que nos tornamos?vá faz aí mais uma reflexão sobre isso...fica bem.dp dirmeás se te aconteceu o mmo.