segunda-feira, fevereiro 16, 2009

Amor em Tempo de Crise...


Andava já há algum tempo para escrever um texto sobre isto... tenho aqui escrito alguns rascunhos... mas parece que o psicólogo Victor Silva, formado na Faculdade de Psicologia e Ciência da Educação do Porto (quase a acabar o doutoramento...) me poupou as palavras... é bem verdade o que ele diz...

Estamos a atravessar uma crise... não financeira, mas de valores...

"Por vezes dou por mim a pensar que os relacionamentos nestes tempos – de consumo - têm muito de marketing…Como os produtos, parece haver relacionamentos para todos os fins e objectivos. Parece haver pessoas que, como alguns produtos, não abandonaremos, parece haver pessoas que servem um determinado objectivo.

Do “one-night-stand” ao namoro, do “amigo colorido” ao casamento, os relacionamentos de hoje em dia são variados, podem evoluir para coisas mais profundas, podem ficar apenas por umas horas bem (ou mal) passadas. Podem ser profundíssimas e acabar.

Uma das motivações mais profundas no ser humano é amar e ser amado. Não é preciso um psicólogo dizer isto. Afinal, em alguma altura da nossa vida, estivemos apaixonados por alguém. Ou ansiamos encontrar esse alguém que nos ponha a cabeça a andar à roda e que preferencialmente sinta a mesma coisa.

Não sou daqueles que diz que antes era mais fácil. A questão é que nos nossos tempos – de consumo – a escolha também é maior, assim como a concorrência. Por outro lado, numa sociedade cada vez mais individualista, não estamos facilmente abertos a aceitar pequenas grandes diferenças – os chamados defeitos. A margem de manobra que nos damos a nós próprios para aceitar a diferença alheia parece ser menor que noutros tempos. Em algumas situações, ainda bem que assim é. Noutras, nem por isso.

O corre-corre do dia a dia parece também afectar esta coisa dos relacionamentos. Por vezes é difícil ou mesmo impossível mostrarmo-nos como somos. Logo à partida, andamos todos muito defensivos, com medo de espantar a “caça”. Ou então, escolhemos tanto que acabamos uns anos depois a realizar verdadeiros saldos de nós próprios. Nem uma coisa nem outra é boa. Numa e noutra desponta, mais cedo ou mais tarde, a insegurança de viver num mercado relacional por vezes muito agressivo. Isto para não falar dos milhentos casos de pessoas que se mantêm num relacionamento por medo da solidão. Não são assim tão poucos como possa parecer à primeira vista.

Curiosamente – ou talvez não – a capa desta edição mostra um homem autómato e uma mulher de carne e osso. As interpretações possíveis devem ser pelo menos tantas quantos os leitores da revista: O homem a quem nada era exigido e agora tudo é exigido, qual autómato; a mulher que cada vez tem mais poder (ainda bem!) nesta coisa dos relacionamentos; o cyber-relacionamento: hoje temos paixões e relacionamentos virtuais, pela Internet, mais dia menos dia surgem os robots, com aquela personalidade, peso, medidas, cor de cabelo e tamanho de sutiã que corresponde ao nosso ideal…Isso seria dramático…

Seria dramático porque mesmo com todas as dificuldades, características de relacionamentos, desilusões, traições, defeitos, fins e recomeços, esta coisa dos relacionamentos é fulcral no nosso desenvolvimento. Aprendemos sempre algo num relacionamento e até mesmo no não-começo de um relacionamento. Se calhar aprendemos que não é boa ideia falar de relacionamentos anteriores no primeiro encontro com alguém; que a pessoa pode não ter aquele peito idealizado, mas que a forma como sorri é muito mais sensual; aprendemos essencialmente sobre nós.

Isto dos relacionamentos não é fácil. Não é fácil começar um, não é fácil mantê-lo quando a paixão se esbate, não é fácil acabar outro, não é fácil chegar ao ponto ideal de partilha individual e respeito pela diferença que permite um relacionamento saudável e satisfatório para as duas pessoas. Mas desistir é pior, mais destrutivo.

Às vezes é preciso mesmo reiventar a relação que temos em determinado momento. Não nos esqueçamos que, da mesmo forma que não vemos os defeitos e diferenças, apenas só coisas boas no outro no inicio duma relação, quando ficamos com dúvidas tendemos a ver só as coisas negativas. Desistir é o mais fácil. Corrigir, dialogar, reinventar o relacionamento é o mais difícil. Mas pode ser também o mais proveitoso. Isto porque, como as empresas de sucesso, os grandes relacionamentos adaptam-se e inovam, não se rendem às circunstâncias, se o seu “produto” – essa terceira entidade que existe numa relação entre duas pessoas – for de qualidade e passível de ser melhorada."

In: http://www.victor-silva.blogspot.com/

... Ehh páaa dêem o Canudo ao Homem =D

3 comentários:

Anónimo disse...

Muitíssimo bem escrito e pura (triste) verdade...!
Enfermeiro Nuno, já passo pelo "Pica no cú" pelo menos há um ano, mas desta vez tive mesmo de comentar! Aproveito para felicitar pelo blog, especialmente pela variedade dos temas e pela sua "frescura". E claro, por ser Enfermeiro! :) Sou estudante de Enfermagem e adoro vir aqui dar uma espreitadela às "peripécias" que podem também vir a fazer parte do meu futuro... ;)
Obrigada pela partilha!

Inês *

Nunito disse...

Obrigado pela visitinha e pelo comentário...

Ainda bem que partilhas da minha opinião...

Até à próxima.

Beijito*

Sílvia disse...

Olá :D que belas palavras, a nua e crua realidade da actual sociedade, mas com um arrebato final bem positivo, quando A/O encontras encaras a vida com outra perspectiva e lutas, lutas, sem desistir, sem t cansares, pk sentes... Beijinho grande *