sexta-feira, abril 30, 2004

As Histórias do Avozinho II

Que a mão direita não saiba

Aquele pobre velhinho, que pede à porta da igreja, não há ninguém que o não veja, e tu, decerto, amiguinho, já o tens visto também. Até já lhe deste esmola, à tarde, ao sair da escola. Tê-la-ias dado bem?

Talvez tu penses, amigo, que eu já não sei o que digo, para assim te perguntar. Mas, antes de te zangares, ouve-me com atenção:

Dar esmola é já bastante, demonstra bom coração. Mas nem toda a gente pensa que pedi-la é humilhante, que há uma amargura imensa no gesto de pedir pão. Não devemos dar a esmola à vista de toda a gente, dá-a com ostentação que prova orgulho somente.

Está, na maneira de dar, a verdadeira bondade. E uma esmola pequenina, dada com muito carinho, dada com muita amizade, ao pobre sabe melhor que outra de maior valor mas sem tanta caridade.

Pensa que o pobre velhinho se envergonha de pedir. Que pede porque é doente e não pode trabalhar. Que é dever de toda a gente, o dever de lhe acudir, o dever de o ajudar.

E dá esmola de maneira que o não envergonhes mais, que lhe não custe aceitar. Como se tu lha devesses, como se a fosses pagar.

Foi assim que tu fizeste, quando da esmola que deste ao velhinho que pedia?

Quando passares, noutro dia, não esqueças este conselho que te dá quem já é velho, quem é muito amigo teu:

«Que a mão direita não saiba... da esmola que a esquerda deu...»

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